Protagonismo Feminino
- Luana Farias
- 5 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de jul. de 2019
Série "Coisa mais linda" traz a problemática dos desafios e do ato de coragem de ser mulher na década de 50 que ainda hoje são presentes.

A série brasileira da Netflix “Coisa mais linda” adaptada ao final da década de 1950, carrega um discurso atemporal sobre o papel social da mulher. Nessa época, as revistas femininas traziam em suas publicações um conteúdo fortemente patriarcal, com dicas de como uma mulher deveria agir para manter o seu casamento. O segredo? Agradar o seu marido.
Toda a trama acontece em solo carioca, e os setes episódios de aproximadamente 50 minutos, trazem questões da época que ainda são vigentes no dias de hoje. Os desafios são vividos e rompidos por 4 mulheres de classes sociais e origens diferentes, mas com um único objetivo: Serem protagonistas de suas próprias vidas.
A jovem paulista, Maria Luiza, interpretada pela atriz Maria Casadevall é uma moça de família rica e branca, que até então vivia uma vida cheia de privilégios. Depois de sair da sombra do pai e ser abandonada pelo marido, que a deixou com um filho pequeno, e fugiu com todo o dinheiro, Malu decide que vai abrir um bar clube bossa nova no Rio de Janeiro. Devido à falta de credibilidade feminina no mercado de trabalho, a moça encontra dificuldades para tocar seu bar. Mas é com a empatia das outras mulheres da trama que o tão sonhado clube, recheado de boa música, é inaugurado.
No decorrer da série, Malu encontra Adélia, personagem de Pathy de Jesus, que vive no morro do Rio de Janeiro. Adélia se apresenta na vida de Malu quando a paulista está em uma situação vulnerável e a ajuda a se reerguer. Esse choque de classe fez com que Malu repensasse em suas ações, afinal os papeis se inverteram. A situação que até então era vivida por Adélia, o da vulnerabilidade, estava sendo vivido pela paulista rica. Claro, não tem comparação, mas essa análise de consciência de classe é importante que seja compreendida. A personagem pobre, negra e empregada doméstica combate o racismo até mesmo depois de ser sócia do bar clube, mostrando que independente da sua classe, o racismo velado ainda é presente.
Outra personagem do elenco da série, é a Ligia, interpretada por Fernanda Vasconcelos. Ligia é amiga de infância de Malu e uma aspirante a cantora, que abandona seus sonhos em prol da carreira política de seu marido. A personagem sofre agressões graves, mas precisa manter aparência de um bom casamento, já que o companheiro é candidato a prefeito. Além de ter um casamento de poses de fotos, Ligia engravida, mas decide que vai abortar. Embora a questão abortiva seja tratada de forma rápida, traz reflexão a quem está assistindo.
Outra protagonista, é a Thereza, editora chefe de uma revista feminina feita por homens que assinam com nome de mulheres. A personagem da atriz Mel Lisboa é a única mulher da revista e tem que lidar com comentários como “Homem é mais profissional”. A Thereza é a mais moderna da turma e tenta trazer para suas amigas uma narrativa de mulheres independentes. Na década de 50 esse comportamento era mal visto. Além disso, a personagem traz à tona a possível bisexualidade, Thereza se apaixona por uma funcionária, a Helô, interpretada pela atriz Thaila Ayala, que também faz parte da redação.
As questões da época são pertinentes até hoje, como aborto, violência doméstica, classe social, machismo, maternidade, mercado de trabalho e um pouco da orientação sexual. Para mais, mostra como a sociedade está muito aquém do ideal, no entanto, a sororidade feminina, o ato de se unir, fez com que as mulheres da série na década de 50, transcendessem seus gêneros e darem a possibilidade de um novo cenário. Juntas saíram da plateia e viraram protagonistas do palco da vida.
É uma imensidão de temas que são tratados em apenas uma temporada, e que promete uma segunda, mas vale uma boa pausa para o café.
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