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Os obstáculos da escolarização em tempos da pandemia da covid-19

Diante desse cenário, as escolas tiveram que se adaptar à nova realidade e usar a tecnologia como ferramenta de estudo. Mas será que todo mundo tem acesso?



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Com a pandemia do coronavírus (covid-19) a rotina de toda população mudou bruscamente. Desde março de 2020, as aulas presenciais foram suspensas, e para amenizar o prejuízo no processo de alfabetização dos alunos as escolas deram continuidade as atividades através do ensino remoto.


Em meio às incertezas causada pela pandemia, os pais, alunos e professores precisaram se adaptar ao novo modelo de ensino. A educação a distância evidenciou desigualdade social tanto tecnológica como econômica.


Mesmo sem possuir o ensino básico os pais precisaram auxiliar seus filhos nos estudos. Além disso, o IBGE também aponta que cerca de 45,9 milhões de brasileiros não tinham acesso à internet em 2018 — número que corresponde a 25,3% da população com 10 ou mais anos de idade. Em cerca de 99,2% dos lares, o celular é o meio mais usado para se conectar.


Josineide Guimaraes, é mãe de Matheus que estuda em uma escola no centro de Francisco Morato. Todas os dias ele e os demais alunos tem aula online e utiliza apostila como apoio. “De uma hora para outra tudo mudou e eu senti dificuldade para ajudar. Ele está na fase de alfabetização o que torna tudo mais difícil, eu não sabia qual o caminho seguir”, diz.


Ela ainda aponta que enxerga muita dificuldade de concentração no filho que fica disperso com muita facilidade. “É muito cansativo, mas precisamos insistir e tentar da melhor forma possível ajuda-lo”.


O professor da Associação de pais e amigos excepcionais de Francisco Morato (Apae) Erick Henrique Santos, conta que notou diversas dificuldades, principalmente no ambiente de estudo. “Poucas casas, principalmente em periferias tem esse espaço mais calmo, mais silencioso pra estudar”.


Os professores que já sinalizavam um excesso nas atividades do trabalho antes da pandemia, hoje essa demanda triplicou. Precisam cumprir cronogramas, agenda, responder pais, alunos e buscar formas eficientes para que as crianças aprendam. A casa virou o local de trabalho e o WhatsApp pessoal se tornou o meio de se manter perto dos alunos.

“É muito exaustivo. Era um momento de refletir, não de duplicar o que já era bem cansativo. Nós professores também fomos afetados emocionalmente”.


Nas aulas Erick aposta em dinâmicas. A ideia é motivar os alunos a produzir conhecimento e aliviar de alguma forma essa pressão que eles estão sofrendo com o ensino remoto. Mas tudo isso seria positivo se houvesse de fato uma estrutura. O professor chama a atenção sobre a romantização do sofrimento em não ter acesso a tecnologia. E afirma que não deveria ser o ponto enaltecido. E sim todo o descaso que estamos vivenciando.


“É importante a gente pensar também na desigualdade social. Quantos alunos tem acesso à internet de qualidade? Então eu posso sim pensar em várias dinâmicas, mas como eu vou passar o filme para um aluno se ele está usando os dados moveis da mãe dele? Então toda essa questão influencia muito na qualidade de ensino do aluno”. E acrescenta “Tem casos que o pai tem um único celular para os três filhos estudarem”.

Josiane mãe de Arthur também aponta uma questão importante: A saúde mental dos pequenos. “Eu senti falta de um amparo na saúde emocional dos nossos filhos. A falta de um psicólogo profissional para acompanhá-los. Nós adultos estamos nos sentindo desamparado, imagina eles”.


Já Fatima, mãe de Leticia que também estuda em escola pública em Francisco Morato, reclama sobre a falta de tempo. “É muito cansativo lidar com todas as tarefas de casa e ainda sim acompanhar ela nos estudos. Eu tento, mas tem coisa que não consigo ensinar. O professor faz falta”.


Segundo a professora de Franco da Rocha Kethelyn Piacente, professor nenhum pode ser substituído por esse adulto, nem mesmo a tecnologia. “O professor além de ensinar, ele media e auxilia na formação do eu da criança, ele oportuniza essa educação”.


Em entrevista, o Erick revela que trabalha quase 17 horas por dia para conseguir manter o calendário escolar. “Não tem como eu cobrar de uma mãe que trabalha o dia inteiro que ela elabore uma atividade e me entregue em determinado horário. Então eu acabo respondendo mensagens no WhatsApp o tempo todo. É sobre entender a realidade do outro também.


Na pandemia ficou claro o acirramento na desigualdade social e a disparidade de oportunidades que serão um reflexo na vida adulta dessas crianças.



 
 
 

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